É hora de abordar o problema do erro médico com um pouco mais de profundidade. Como vimos anteriormente, estima-se que 98.000 mortes nos EUA sejam secundárias a erros na assistência à saúde.
Mais recentemente, a literatura médica tem entendido que a expressão erro médico é incompleta, a expressão que melhor expressa esse fenômeno é evento adverso prevenível que caracterizaria um erro na assistência à saúde. Esse erro pode ser do médico assistente, de um outro médico envolvido no tratamento ou de qualquer outra parte da equipe de saúde.
Para abordarmos com clareza o erro médico ou os eventos adversos preveníveis é necessário excluir situações em que haja dolo, como no caso dos médicos que vendiam "células tronco" em cápsulas. Também deve-se excluir condições em que haja negligência óbvia ou recorrente. Estas circunstâncias não fazem parte do escopo desse artigo e são obviamente questões éticas e judiciais.
Por que ocorrem erros na assistência à saúde? Por que médicos e outros profissionais da saúde erram ao abordar um paciente, tanto do ponto de vista diagnóstico, como terapêutico?
A resposta é simples, porque como seres humanos somos passíveis de erro e em processos extremamente complexos como o diagnóstico e tratamento de uma doença, a chance desses erros ocorrerem é na realidade, bastante grande. É comum em medicina considerarmos valores de acerto em 80% das situações não críticas, como um valor bastante adequado. Ora acertarmos em 80% dos casos implica necessariamente que erraremos em 20%, ou seja, duas vezes a cada dez.
Processos não críticos são aqueles em que um erro não traz risco imediato à vida ou risco de lesão permanente a um paciente. Por exemplo, muitos consideram aceitável que a cada 10 pacientes com risco de úlcera por pressão (antigamente conhecida com escara de decúbito) conseguirmos evitá-las em oito; ou ainda, a cada 10 pacientes que devam receber antibiótico em um determinado horário, apenas oito receberem corretamente.
Sabemos hoje que catástrofes na assistência médica, como a morte de um paciente, raramente ocorrem por um erro isolado, mas por uma seqüência de falhas que culmina com uma catástrofe. Esse modelo é conhecido como Modelo do Queijo Suíço.
O fato é que erros acontecem, pacientes sofrem lesões freqüentemente por falhas na assistência médica. Christian Morel em seu livro "Erros Radicais e Decisões Absurdas" aponta três possíveis modelos para explicar a gênese do erro: (1) O calculador amoral, (2) A normalização do desvio e (3) A ratoeira cognitiva.
No próximo artigo, vou discorrer um pouco mais sobre estes modelos e tentar demonstrar que a ratoeira cognitiva é a grande responsável pela maioria dos erros, apesar dos outros dois mecanismos estarem freqüentemente envolvidos.
domingo, 1 de julho de 2007
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