Existe a sensação, muitas vezes velada, de que a qualidade da assistência médica que temos em nosso país é pior que a que poderíamos ter. São freqüentes as notícias de superlotação em hospitais, seus departamentos de emergências, maternidades e unidades de terapia intensiva. Todas as semanas ficamos sabendo de pacientes que morrem aguardando atendimento médico.
Menos freqüentes são notícias de pacientes que morrem devido a erros na assistência à saúde, o que é popularmente conhecido como erro médico. Quando esses erros acontecem, no entanto, é comum tomarem bastante espaço na mídia.
Mas seriam os erros por problemas na assistência médica mais freqüentes do que os noticiados pela mídia?
Em Novembro de 1999 o Institute of Medicine, um órgão da National Academy of Science, publicou o livro To Err is Human (Errar é Humano). Esse livro analisa de forma absolutamente contundente os problemas relacionados a falhas na assistência à saúde em hospitais americanos. Os números são assustadores. O estudo aponta que nos Estados Unidos, a incidência de eventos adversos preveníveis (erros médicos) atingem 2,9% a 3,7% das internações hospitalares, com uma taxa de mortalidade de 6,6% a 13,7%.
Segundo esse estudo, cerca de 98.000 mortes nos E.U.A. são secundárias a falhas na assistência à saúde o que coloca o erro médico como 8a. principal causa de morte, superando a AIDS, o câncer de mama e os acidentes com veículos auto motores. Um estudo do Reino Unido mostra que o custo desses erros na assistência médica pode chegar a 2 bilhões de Libras Esterlinas. Na Austrália estimou-se que a ocorrência de um evento adverso prevenível aumenta em 7 vezes o risco de morte durante uma internação.
Após 25 anos dedicado à assistência médico-hospitalar, tenho certeza que o Brasil não está em situação melhor que E.U.A., Reino Unido ou Austrália. Se extrapolarmos para nosso país os números americanos e do Reino Unido e considerarmos apenas as internações do SUS em 2006, mais de 57.000 pacientes morreram por falhas na assistência à saúde o que supera de longe a mortalidade por AIDS, câncer de mama, câncer de pulmão e perde por pouco da mortalidade por infarto agudo do miocárdio (68.000 mortes em 2004).
O problema é grave e é necessário que haja uma tomada de consciência pelos profissionais da saúde e pela sociedade de modo geral. Há que haver uma verdadeira revolução no modo como prestamos assistência à saúde no Brasil e no mundo. Podemos seguramente repetir a constatação do próprio Institute of Medicine no livro Crossing the Chasm (Cruzando o Abismo): Entre a assistência médica que temos e a que poderíamos ter, não existe um vão, existe um verdadeiro abismo!
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