Antes de focar o modo como erramos e as maneiras de evitá-los, é importante que expliquemos o conceito da Navalha de Ockam citada no penúltimo post.William (Guilherme) de Ockam, lógico inglês e frade franciscano do Século XIV, elaborou o que se chamou de Lei da Parcimônia: Entia non sunt multiplicanda preater necessitatem (ou ainda, pluralitas non est ponenda sine necessitate), traduzindo, As entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade (ou, não se deve incluir pluralidade sem necessidade).
Mas o que isto tem a ver com qualidade em saúde? Tem tudo a ver, quando elaboramos processos temos a enorme tendência de fazê-los complexos, cheios de passos e etapas, cheios de pontos de checagem. É bastante comum atribuirmos mais funções e tarefas a pessoas já sobrecarregadas de trabalho, apenas porque queremos controlar melhor um ou outro processo. É comum inserirmos retrabalhos e etapas que pouco ou nada impactam os resultados apenas para podermos controlá-los melhor.
É essencial simplifiquemos nossos processos, procedimentos, protocolos e controles. Mantê-los simplificados, com o menor número de passos possíveis é a garantia de melhores resultados. Neste aspecto devemos ser radicais, usar a afiada navalha de Ockam para cortar tudo o que seja supérfluo, todos os passos que não tenham impacto ou mesmo aqueles que afetem pouco os resultados. Certa vez discutindo sobre o método lean-sigma ouvi que o sistema lean ajuda a tirar elefantes do processo enquanto o six-sigma trata de animais menores.
Infelizmente em hospitais, antes de retirar os elefantes temos muitos dinossauros enormes a serem retidos.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
Dez anos após "To Err is Human"
Em novembro de 2009 completamos dez anos da publicação do estudo To Err is Human. Em outubro de 2009 o New England Journal of Medicine, uma das mais importantes revistas médicas do mundo, publicou um artigo do Dr. Robert Wachter e Dr. Peter Pronovost em que analisam o impacto que este estudo teve sobre a a assistência a saúde.
Nestes dez anos, centenas de milhares de vidas foram salvas graças a esforços de entidades como o do Institute for Healthcare Improvement e suas campanhas 100.000 Vidas e 5 Milhões de Vidas. No entanto, há muito ainda a fazer.
Dr. Atul Gawande demonstrou em estudo publicado no mesmo New England Journal of Medicine que o uso de um checklist para cirurgia segura, posteriormente adotado pela Organização Mundial da Saúde, foi capaz de reduzir de 11% para 5% as complicações cirúrgicas e de 1,5% para 0,8% a mortalidade associada a procedimentos cirúrgicos. Apesar destes números, muitos cirurgiões ainda consideram o checklist desnecessário e um estorvo às suas atividades.
Wachter e Pronovost lembram-nos que a adesão à higienização das mãos em hospitais é de apenas 30 a 70% das oportunidades, apesar de sabermos há séculos que esta é a medida mais eficiente no controle das infecções hospitalares.
É necessária uma tomada de consciência não apenas dos meios ligados à saúde, mas também e principalmente da opinião pública esclarecendo, educando e comprometendo a população a cobrar dos profissionais da saúde atitudes e ações que garantam sua segurança. A exigência não pode vir apenas de dentro do sistema, tem que vir de fora para que tenha maior eficácia.
É necessária uma tomada de consciência não apenas dos meios ligados à saúde, mas também e principalmente da opinião pública esclarecendo, educando e comprometendo a população a cobrar dos profissionais da saúde atitudes e ações que garantam sua segurança. A exigência não pode vir apenas de dentro do sistema, tem que vir de fora para que tenha maior eficácia.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Erro Humano
Somos falíveis, erramos e erramos frequentemente. Todos sabemos disto. Por diversas vezes esquecemos coisas importantes tanto pessoais quanto profissionais. Aniversários de pessoas importantes passam sem que nos recordemos, esquecemos de pagar contas (felizmente existe o Internet Banking que permite pagamento até às 21:00h).
Erramos porque somos imperfeitos, porque nosso cérebro para funcionar melhor e mais rápido usa uma série de adaptações vindas da evolução da nossa espécie. Não há como evitar os erros, por mais esforços que façamos, mais cedo ou mais tarde ele ocorrerá.
Mas se isto é realmente verdade, e é! Por que insistimos em construir sistemas que se baseiam na perfeição humana? É comum, quando analisamos falhas na assistência médico-hospitalar ouvirmos dos responsáveis pela análise soluções como: o funcionário foi reorientado! Como se o funcionário tivesse errado por má fé, por negligência ou por descaso. Na imensa maioria das vezes não é isto que acontece. Ninguém sai de casa planejando errar nesta ou naquela função. Ninguém erra por que quer!
É necessário que entendamos os mecanismos dos erros humanos para que possamos efetivamente criar barreiras que previnam ou impeçam que os erros aconteçam. Na imensa maioria das vezes estas barreiras não podem basear-se nas capacidades humanas, mas sim em processos simplificados e bem elaborados.
O mote que deve acompanhar todo o processo de controle de riscos e segurança do paciente deve ser a antiga lei da parcimônia de Guilherme (William) de Ockham no século XIV: Entia non sunt multiplicanda preater necessitatem (ou ainda, pluralitas non est ponenda sine necessitate). A navalha de Ockham. Mas voltaremos a este tema em breve.
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